A
fome. A estratégia que dá certo, mais do que qualquer tortura. Foi assim também
com os nazistas, que aniquilaram a identidade dos judeus nos campos de
concentração. As pessoas ficavam concentradas,
tinham um destino comum, pois ali era o centro da fome. Os torturados comiam uma
metade de pão velho e duro por dia, parecia feito com serragem, dado pelos
torturadores, e dividiam-no para comer aos poucos. O centro dos pensamentos de cada
judeu era a fome. Muitos se suicidaram. A tortura de não ter o que comer virava
obsessão, e havia uma tênue esperança de que no dia seguinte poderiam comer
alguma coisa, e assim aguentavam mais um dia, e outro.
Foi
isso o que li na Piauí de setembro, parte de um diário de guerra de Liwia
Jaffe, que agora, aos 85 anos, com a ajuda da filha, Noemi Jaffe, vai publicar
sua história: O que os cegos estão
sonhando?, em outubro. É emocionante e real, não como o monte de livros e
filmes de ação e violência que aparecem a rodo por aí, e quando acabam, são imediatamente
esquecidos. A história de terror que ela vive é tão pungente e humana que pensamos:
isso não pode acontecer nunca mais, nunca mais. Mas a imagem que logo me chega
é a da fome na África.
Os
judeus no passado, os africanos no presente.
Em
condições sub-humanas, milhões de africanos partem em êxodos pelo deserto, morrem
como formigas, fugindo do fundamentalismo, das guerras, do terrorismo, da perseguição
política, étnica ou religiosa.
Quando
se descobre, pensando, uma verdade com a qual se depara, é como se tudo ao
redor parasse no tempo e no espaço. Tem-se a percepção de uma realidade, é um
instante de compreensão absoluta em que nem as palavras são necessárias: o
estado mental é de uma precisão impactante.
A
percepção de alguma coisa faz com que algo por dentro mude, como se as células
de agora em diante fossem se comportar de maneira diferente. A percepção é
física, não só mental: o corpo todo fica alerta, por instantes.
Sentir
fome é diferente de viver com fome. Não se precisa passar fome para se saber
como é. Por isso, uma história bem contada ou um livro bem escrito fazem com que
se tenha a percepção de um momento. As palavras podem levar as pessoas a várias
experiências, mas só quando existe uma verdade absoluta na história o leitor é
abençoado com uma percepção da verdade. Ela o muda.
mas só quando existe uma verdade absoluta na história o leitor é abençoado com uma percepção da verdade. Opa! Essa frase é fascista!
ResponderExcluirFalar da verdade é tão nazista quanto a segunda guerra! Fala sério!
É, Monique, cada um de nós temos nossas verdades, cada um de nós temos nossos momentos de terror, cada um de nós temos a força na medida, para sucumbir ou para vencer. Os terrores coletivos chamam a atenção, porque são alardeados, natural isso. Dói nas entranhas, em geral, quando nos colocamos no lugar do outro. Há, entretanto, histórias individuais que nunca chegarão à baila e é tão ou mais comoventes que as histórias que permeiam o Holocausto judeu. Sou solidária a eles, claro. Verdade absoluta... o que é? Para mim só existem verdades como sinônimo de fatos.
ResponderExcluirPara quem gosta de literatura nada melhor que a revista Piauí.
ResponderExcluirMônica, a propósito, por acaso, gosta de literatura amadora? >>> O http://jefhcardoso.blogspot.com anseia por seu comentário. Abraço e bom final de semana!